DGC - DIVER GIRLS CLUB

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quarta-feira, 20 de março de 2013

A Mulher e o Mergulho.


INTRODUÇÃO 
Atualmente é crescente o número de mulheres que pratica o mergulho autônomo amador. Para este grupo existe uma série de perguntas específicas relacionada à condição de mulher e suas características como mergulhadoras. 
À medida que vários estudos na área da medicina do mergulho foram sendo divulgados, muitas dúvidas se esclareceram. Anteriormente, respostas a certas perguntas não eram fornecidas pela medicina baseada em evidências. Somente mais recentemente passamos a dispor de um conjunto de informações claras e confiáveis. Mesmo assim, muitas dúvidas ainda persistem. 
Neste campo devemos muito às pesquisas da Dra. Donna Ugoccini, estudiosa de fisiologia do mergulho e pesquisadora sobre a mulher e o mergulho pelo Dive Alert Network (DAN) e da Dra. Maida Beth Taylor, outra especialista com várias publicações sobre o assunto. As informações contidas neste boletim têm como referência os relatos da experiência dessas duas pesquisadoras. Por ser extenso, dividiremos o assunto em várias apresentações. 
Para se ter uma idéia da falta de informação segura no passado recente sobre o tema, exemplificaremos com uma pergunta considerada por Joel Dovenbarger das mais comuns sobre o tema: as mulheres são mais suscetíveis à doença descompressiva que o homem por apresentarem mais tecido adiposo ? 
A pergunta vem acompanhada de uma afirmação. As mulheres, por apresentarem mais gordura corporal decorrente da ação hormonal fisiológica específica vinculada ao gênero, teriam maior probabilidade de vir a desenvolver doença descompressiva. A base do raciocínio está no fato de o tecido adiposo fazer parte do grupo de tecidos que têm um dos maiores tempos de desaturação após um mergulho. Não necessariamente seria por esse motivo que as mulheres teriam maior probabilidade de desenvolver doença descompressiva. Se esse fosse o fator mais importante, homens com adiposidade extra correriam o mesmo risco. 
As evidências apontam que mulheres saudáveis não têm maior risco de desenvolver doença descompressiva que homens com características físicas semelhantes. Elas seguem as mesmas orientações de segurança preconizadas pelas certificadoras de mergulho que os homens. 
Quando analisamos os relatórios de acidentes com lesões relacionadas ao mergulho por sexo e experiência do mergulhador, somente o que se pode observar é uma forte correlação entre mulheres e sua experiência de mergulho. Mulheres que mergulham há menos de dois anos geralmente correspondem de 39 a 50 %, dependendo da série, das que se acidentam mergulhando. O resto são especulações baseadas em hipóteses fisiopatológicas decorrentes de opiniões particulares sem validação no mergulho autônomo recreativo. Inicialmente abordaremos 4 temas de relevância entre as questões sobre a mulher e o mergulho: menstruação durante a atividade de mergulho, anticoncepção, tensão pré-menstrual e implantes mamários. 
MENSTRUAÇÃO DURANTE A ATIVIDADE DE MERGULHO 
Existem achados sugestivos de que a mulher teria maior risco de apresentar doença descompressiva quando mergulhasse durante a primeira semana do ciclo menstrual, ou seja, durante a semana de menstruação. Estes achados são descritos na literatura aeroespacial e foram observados em câmaras durante terapias hiperbáricas para outras doenças que não a descompressiva. Eles não foram estudados em mergulhos. 
A explicação para uma maior predisposição estaria relacionada com as mudanças fisiológicas que ocorrem durante a fase menstrual do ciclo, tais como: alterações hormonais, eletrolíticas, reatividade vasomotora e vasoconstrição periférica. Tais mudanças fariam com que as mulheres manejassem diferentemente a saturação de gases no corpo em mergulhos que necessitassem descompressão. Em tese, devido à retenção de líquidos e reações teciduais específicas, as mulheres estariam com menos capacidade de liberar o nitrogênio dissolvido após um mergulho. Assim, seria prudente que durante a menstruação as mulheres mergulhassem de maneira mais conservadora. Isto é, que mergulhassem menos, que os mergulhos ocorressem em águas mais rasas e que prolongassem as paradas de segurança. No entanto, deve ficar claro que, com base na informação disponível no momento relacionada à prática do mergulho autônomo, as mulheres que estão menstruando não têm risco aumentado de desenvolver doença descompressiva quando comparadas com mulheres que não estão menstruando. 
Um fato a ser considerado como fator de risco para doença descompressiva é o uso de anticoncepcionais orais. Num estudo foi observado que 38 % das mulheres que apresentaram um episódio de doença descompressiva também estavam menstruando. Também foi visto que 85 % delas faziam uso de anticoncepcional oral. Esta observação sugere, mas não comprova, os anticoncepcionais orais aumentam o risco de doença descompressiva durante a menstruação. Desta maneira devemos sugerir que mulheres menstruando e que usam anticoncepcional oral devem mergulhar de maneira mais conservadora, ou seja, que reduzam o risco diminuindo a exposição à profundidade, ao tempo de fundo e ao número de mergulhos por dia. 
Em relação ao ciclo menstrual, pode-se dizer que, se a mulher não apresenta sintomas ou desconfortos que afetem a sua saúde, não há motivo para deixar de mergulhar durante a menstruação. Algumas considerações em relação ao fluxo menstrual devem ser feitas. Grandes fluxos menstruais podem acarretar problemas em relação à higiene e privacidade. Algumas mulheres com fluxos menstruais intensos preferem não mergulhar nesses dias. Fluxos intensos acompanhados de anemia podem prejudicar a dinâmica circulatória e estar correlacionados com mais cansaço durante o mergulho. 
Apesar de ser um fator predisponente para infecções pélvicas, não há correlação entre menstruação, banho e infecção pélvica. Não existem evidências de que tampões vaginais ou outros objetos intravaginais sejam perigosos sob os efeitos diretos do aumento de pressão ambiente. 
Relatos de ataques de tubarões a mulheres são raros. Não há evidências de aumento de ataques de tubarões a mergulhadoras que estejam menstruando. Informações atuais referem que muitos tubarões não são atraídos por sangue ou outros restos teciduais encontrados na menstruação. 

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